domingo, 7 de agosto de 2011

Ser ou não ser



Conversando com uma amiga dias atrás ela falou de uma participante de alguma edição do Big Brother Brasil que tinha mestrado e outros títulos, mas que depois de ter participado do programa deixou de ser convidada para participar de bancas acadêmicas. Questionei o porquê disso, já que ela com tantos títulos, engajada na área que atuava e tudo mais, deixou de ser convidada para avaliação de trabalhos acadêmicos. Minha amiga que é formada em Letras, assim como a ex-bbb, disse que essa rejeição não é surpreendente.
Minha amiga me contou que em alguns meios acadêmicos, como Letras, há o que eu posso chamar de estereótipo. Aliás, pensando bem, isso é comum a muitas profissões. Infelizmente. Certa vez, ainda na faculdade, ela presenciou uma cena onde a professora recriminava uma aluna do curso de Letras por ela ter ido para a aula com uma camisa da Banda Calypso. Que aquilo não era posicionamento de uma aluna que cursava letras.
Continuando a conversa, ela me disse que esse tipo de comportamento era comum por parte de alguns docentes. Na cabeça desses docentes (que para mim além do D de docente, tem um D de doido) os alunos teriam que se “enquadrar” dentro da profissão escolhida e manter a honra da profissão . Para mim isso não passa de uma bobagem.
Sou graduada em Jornalismo, e em quatros anos de faculdade nunca ouvi de nenhum professor que eu e meus colegas não deveríamos nos comportar dessa ou daquela forma porque seríamos jornalistas formadores de opinião.
Como no caso de minha amiga, creio que em outras profissões (a minha também) esse posicionamento alienado é comum. Mas, as coisas não podem ser vista de forma tão incrédula.
Conheço diversas pessoas graduadas, pós-graduadas, mestres, doutores e afins que não se entregaram ao estereótipo criado no meio acadêmico de algumas profissões. Jornalistas (os formadores de opinião) que curtem um samba partido alto, que vai ao cinema assistir ao um besteirol americano, uma mestre que gosta de ir à shows de camisa colorida com direito a estilizar a roupa com camisa colorida. Conheço também sociólogos que se jogam na “pipoca” no carnaval e vai atrás do trio e só sai no "lixo", engenheiros que todo final de semana gosta de beber uma cerveja gelada, bacharéis que adoram um pagodão, enfim, um pouco de tudo.
Então me responda: o comportamento dessas pessoas, realmente, diz alguma coisa relevante diante dos títulos acadêmicos adquiridos por elas? Acho que não. Vida profissional é uma coisa, vida pessoal é outra. Nos currículos profissionais, nível de ensino e os títulos serão de grande valor. Os empregadores, é claro, cobrarão posicionamento de um profissional que seja coeso diante de decisões e óbvio que seremos obrigados a defender nossos pontos de vista com coerência.
O currículo vitae (levando ao pé da letra, currículo da vida) exige muito mais que títulos. E dentre as exigências infinitas, deveríamos ficar atentos para o preconceito. Infelizmente (coisa do próprio ser humano) julgamos os outros pela forma que se vestem, pelo estilo musical que ouvem, pelas companhias, pela formação profissional, dentre outras coisas. Tiro isso por mim mesmo. Realmente tenho o costume de falar alguns palavrões, algumas gírias e pessoas que não têm o que fazer, que não têm o que se preocupar já me perguntaram: você, uma menina que se formou em jornalismo falando desse jeito? Olhe, me deixe viu. Quem me conhece, quem já trabalhou comigo, quem já assistiu alguma apresentação na faculdade, percebe que não é assim que eu me comporto o tempo todo. Não é porque no meu cotidiano, entre amigos, eu tenha o determinado comportamento que vou ser assim em qualquer situação. Aff! Odeio isso.
Então, muitas vezes somos julgados profissionalmente de maneira errônea por causa de comportamento que temos fora do ambiente de trabalho. Creio que um professor universitário não vá deixar de ser um bom profissional apenas porque gosta de ir para um reggae no fim de semana com seus amigos. Ou que um estudante de direito que vai de bermuda e de sandálias havaianas à faculdade, venha a ser um péssimo advogado.
Não sei qual a serventia de rotular as coisas dessas formas. Não é necessário enxergarmos o mundo apenas através de nossas formações acadêmicas. Muita gente passa anos dentro de uma faculdade, e às vezes sai pior do que entrou. Ou melhor, sai e nem sabe o porquê entrou e fica por aí parecendo um zumbi pelo mundo.
Pura mania hipócrita de achar que temos nos fechar ao mundo diferente do que vivemos. A nossa formação não se restringe a alguns anos de faculdade e alguns títulos adquiridos. A escola da vida nos ensina muito mais. Nos transmite conhecimentos que nenhuma escola do homem será capaz de ensinar.

Um comentário:

  1. Oi, Juli!
    Gostei muito - aliás, gostei demais - dessa sua reflexão. Totalmente pertinente nos dias de hoje.

    Eu também odeio estereótipos. Mas confesso que tenho uma certa dificuldade em driblar esse lance de vida pessoal x profissional. Deve ser porque realmente não gosto de pagode e detesto palavrões.

    Hoje em dia, empresas têm utilizado redes sociais - Orkut, Facebook e Twitter, por exemplo - em seus processos seletivos para vagas de estágio e emprego e até como motivo para demitir seus funcionários.

    Claro que a vida pessoal e profissional não devem ser misturadas. Mas o que vejo hoje em dia é que as pessoas não sabem separar as duas coisas. Alguns acham que podem agir no trabalho com a mesma liberdade com a qual agem em suas casas. Outros não percebem que os exageros na vida pessoal podem influenciar demais na sua vida profissional (o que dizer da professora de escola infantil que virou dançarina de pagode?).

    E isso é só uma parte do que podemos pensar...
    Beijos!

    ResponderExcluir