sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Ingrid, mamãe tá chegando

Seis horas da matina e eu to entrando no ônibus em direção ao Comércio. Não tinha lugar e lá fiquei em pé com minha cara inchada de sono. De repente, não mais que de repente, uma mulher fala bem alto:

- Ingrid, mamãe ta chegando!

Nem olhei pra trás. Só pensei: como uma mulher poderia falar tão alto ao celular logo cedo. Ela mais uma vez gritou e eu com minha curiosidade olhei para trás e vi que ela não estava falando ao celular. Estava simplesmente falando sozinha. Acho que tinha algum problema mental.

A cada cinco minutos ela falava em sua imaginação (ou realidade dentro do seu mundo) que estava chegando. Depois começou a explicar pra quem quiser ouvir:

- Eu estava de férias. Passei um mês de férias e agora to voltando pra casa. Ingrid, mamãe ta chegando. To chegando filha.

Passou-se alguns minutos e a senhora pergunta para um dos passageiros as horas.

- Ah! Ainda tá cedo. Vai dá pra vê minha filha indo para a escola.

Alguns minutos de silêncio e a criatura volta a falar do nada chegando a assustar alguns dos passageiros.

- Tá pensando que eu não tenho casa? Eu tenho casa sim. Aliás casa não, um casarão! Eu tenho marido e tenho filha. É... mas minha filha levaram.

Depois de ter escutado isso pensei que um dos motivos do tal comportamento daquela mulher, poderia ser algo relacionado à filha. Será que levaram mesmo a menina?

O silêncio durava uns minutos e logo vinha alguma informação.

- Eu moro em Pau Miúdo. Vou chegar chegando hoje. Vou fechar! Olhe motorista, meu ponto é ali na Rótula do Abacaxi. Desço e chego no Pau Miúdo pelas quebradas. Vou cortando caminho.

Mas teve uma hora que eu tive que respirar fundo para não rir. Se eu risse ela me daria um fora. O cobrador estava escutando música numa caixinha de som quando ela indaga:

- Isso aqui é trio elétrico ou buzu? Que eu saiba isso aqui é buzu, isso aqui não é trio elétrico não! Zoada de manhã cedo?

Nesse momento acho que todo mundo queria rir. Guardei meu riso e continuei a obrigatoriamente escutar:

- Ingrid, mamãe ta chegando.

Chegando na Estação Transbordo, no Iguatemi, a mulher levanta e diz de forma eufórica:

- Isso aqui eu conheço. Aqui é a transbordo. Então daqui a pouco é meu ponto.

Finalmente o ponto dela chegou, mas não vi exatamente onde soltou. Espero que tenha voltado pra casa. E será mesmo que tinha casa? E Ingrid, será que ela era realmente sua filha? Fruto da imaginação? Será que tiraram Ingrid de seus braços? Que tenha chegado bem!


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